Declaração de guerra


O terror imposto por integrantes de facções criminosas é o atestado de falência total do Estado em relação ao sistema prisional e à segurança pública. Mas, nada do que a opinião pública não saiba, fato que vem sendo desenhado há um certo tempo, desde quando os presídios roraimenses se tornaram depósito de gente e universidades do crime.

Inversamente proporcional, enquanto os criminosos avançam em sua organização, o Estado não consegue se manter à altura, sem condições de mudar a realidade do sistema prisional, com presídios caindo aos pedaços e com servidores sem condições de trabalho, além de polícias com seus efetivos defasados.

A morte de um policial militar acaba de colocar mais pólvora nesse barril de desorganização, pois até aqui a sociedade roraimense pedia Justiça, competência administrativa e inteligência das autoridades. Com este novo fato, teme-se que a ânsia por Justiça se torne sede por vingança por parte de alguns setores.

A carnificina já havia sido decretada dentro da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) e, pelo que se desenha, saltou os muros dos presídios para se instalar definitivamente no seio da sociedade, com todos correndo riscos diante dessa guerra que parece não ter indicação de um fim.

Antes disso, enquanto os poderes constituídos estavam mais preocupados com seus bolsos, fato explicitado na “crise do duodécimo”, os bandidos estavam se empoderando ainda mais, articulando seus tentáculos dentro e fora do sistema prisional. O Estado, inerte em virtude de uma crise política, administrativa e financeira, mostrou que sequer consegue administrar o pagamento dos servidores públicos.

E os sinais não são bons. A tendência é a violência se agravar ainda mais, pois temos o fator da migração em massa de venezuelanos empobrecidos e famintos que atravessam a fronteira diariamente, aumentando ainda mais o bolsão de pobreza não só mais na periferia, mas nos semáforos no Centro de Boa Vista. 

Roraima é um barril de pólvora, cujo estopim está dentro do sistema prisional. A morte de um PM deixou o sistema mobilizado e empenhando em dar resposta urgente. Porém, não é essa resposta que vai pôr fim a isso. Não é a vingança que deixará a sociedade mais segura. Pelo contrário, isso está parecendo uma guerra declarada onde mais mortes vão acontecer. 

Todos sabemos que, em qualquer tipo de guerra, vidas inocentes estão em risco, instalando-se uma cegueira em que se atacam os efeitos da criminalidade, mas nunca as causas. Então, salve-se quem puder, pois as autoridades estão bem protegidas em suas mansões e com segurança patrocinada pelo Estado. 

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

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