Do Enem ao impeachment


No meio das polêmicas, sempre surgem postagem nas redes sociais dos que contestam a postura daqueles que criticam quem pediu o impeachment da então presidente Dilma, mas pratica ações como furar fila de banco, estacionar indevidamente na vaga para deficientes físicos ou burlar regras e leis. No entendimento destas pessoas, isso seria irrelevante diante da corrupção na política.

No fim de semana, uma estudante da região de Jequitinhonha, conhecida nas redes sociais por sua campanha contra a corrupção e a favor do impeachment, foi presa em flagrante fraudando o Enem no caso da quadrilha que ficava em um hotel mandando o gabarito através de escuta.

Esse fato corrobora com o que está acontecendo na política brasileira, com as pessoas indo fazer panelaço contra a corrupção, mas não cumprindo com seu papel de cidadão, praticando atos reprováveis ou se prevalecendo do chamado “jeitinho brasileiro”. 

Não há como construir um país sem corrupção se quem está elegendo os corruptos é o povo acostumado em práticas reprováveis e até mesmo criminosas, como é o caso de fraudar o Enem, tanto por parte de quem monta os esquemas como por quem aceita a pagar para ser beneficiado pela fraude.

Há uma esculhambação geral da nação em todos os níveis, dos que recebem Bolsa Família sem precisar, dos que conseguem unidades habitacionais do Minha Casa Minha vida na base da esperteza, dos que tentam burlar auxílio doença, dos que apresentam atestado médico para não trabalhar, dos que buscam vale alimentação dos governos mesmo não tendo o perfil social... Enfim, a lista da esperteza é imensa.

Não há como dissociar a corrupção no topo da política das ações corruptas ou corruptíveis do povo na base da sociedade. Não iremos limpar o Brasil colocando para fora uma presidente, mas agindo de forma desleal na vida pessoal, buscando jeitinhos, praticando delitos, participando de fraudes ou mesmo vendendo seu voto a cada pleito.

Os políticos corruptos são mantidos no poder por meio desse mesmo povo do jeitinho e das trambiquecagens. Os maiores corruptos são enviados para Brasília por meio do voto em seus respectivos estados. Eles não são invenções do acaso, mas da compra de votos, da omissão do povo ou mesmo dessa cegueira social do “rouba, mas faz” ou do “rouba, mas deixa tudo aqui”.

De tanto se locupletar, de levar vantagem, de burlar leis e regras, de se apropriar indevidamente de benefícios sociais ou de unidades habitacionais, essas pessoas com certeza também iriam fazer o mesmo que os corruptos, caso conseguissem chegar ao poder. A desratização no Brasil precisa ser completa, começando debaixo, na base da sociedade. Senão, iremos continuar esse “republiqueta de bananas”. 

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

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