Ecos que vêm do Rio (Parte I)



Os teóricos terão que refazer suas análises sobre a conjuntura política e a realidade do Brasil depois do resultado das urnas deste ano. A vitória de Crivella no segundo turno, para conduzir a Prefeitura do Rio de Janeiro, a Capital do segundo maior Estado brasileiro, era o que faltava para começarmos a atender (ou não entender mais nada) sobre o que está acontecendo no país da Lava Jato, dos conservadores e dos reacionários avançando e do golpe fatal com a espada na cabeça do projeto político de esquerda.

Antes do segundo turno, os analistas afirmavam que os evangélicos conseguiriam ter expressão apenas na eleição para os legislativos (vereadores e deputados), com as igrejas arrebanhando votos nos redutos em suas cidades e estados, mas sem força para conduzir candidatos aos executivos (prefeitos, governadores e presidente da República).

Os teóricos afirmavam que as igrejas evangélicas são bem definidas em suas doutrinas e divididas entre conservadoras e moderadas, pentecostais e neopentecostais. Por isso, elas não teriam esse poder de estarem unidas em uma proposta de se estabelecerem definitivamente na política partidária.

Lego engano. O que os teóricos não estão contando é com a força dos discursos religiosos que muitas vezes casam com os discursos dos reacionários e fascistas. No caso específico do Rio de Janeiro, inclui-se uma briga midiática da Rede Globo, da família Marinho, e Rede Record, do bispo da Igreja Universal Reino de Deus, Edir Macedo, que apoiou o sobrinho, o líder evangélico Marcelo Crivella, de 59 anos, o qual obteve 59,37% dos votos.

Crivella representava não apenas o modelo conservador de um político, que é um cantor gospel de sucesso e evangelizador, contra o outro candidato, Marcelo Freixo, um professor de história, de 49 anos, político defensor da legalização do aborto e das drogas. Estava ali um líder religioso que prega a defesa da família tradicional, a assistência espiritual a pessoas pobres e desvalidas, a ideia de que Deus pode as libertar da pobreza e conceder-lhes a prosperidade.

Como a esquerda se distanciou dos projetos individuais das pessoas, usando o discurso do sindicalismo e muitas vezes não levando em consideração a defesa da família, as pessoas começaram a buscar algo mais concreto, como os projetos sociais das igrejas contra as drogas, a promessa da prosperidade individual, a defesa da família e a luta contra “monstros imaginários”, a exemplo do “comunismo” sempre ressuscitados pelos reacionários.

Desvalidas do setor público, sem esperança na política partidária para construir um país melhor diante das bandalheiras, as pessoas optaram pelo discurso da moral e dos bons costumes (os reacionários também defendem isso) e da prosperidade por meio da fé. No meio desse contexto têm ainda o fim do poderio da Globo. 

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Damurida com Xibé

Deputado federal na mira da Operação Arcanjo

Filha de magistrado é servidora do governo, mas mora em Goiânia