Ecos que vêm do Rio (Parte II)


A chegada de uma liderança evangélica neopentecostal à Prefeitura do Rio de Janeiro é o início da concretização dos planos dos pastores eletrônicos que almejam os níveis mais altos da política brasileira. A partir do “efeito Crivella”, ninguém pode mais duvidar disso, ainda que a realidade carioca tenha algumas especificidades a serem observadas e consideradas.

A desilusão dos brasileiros com a política partidária contribuiu sobremaneira para colocar no poder um candidato da Igreja Universal do Reino de Deus, a terceira com mais fiéis no Brasil e proprietária da segunda maior TV do Brasil, a Record. Não esqueçamos que essa igreja tem o perfil escrachadamente de demonizar as outras religiões e aponta a homossexualidade como um dos piores pecados da humanidade, mandando sumariamente a turma GLBT para o fogo do inferno.

Embora o eleitor brasileiro não parecesse tão conservador, uma vez que a História mostra que já elegemos um presidente sociólogo, um presidente operário e uma presidente guerrilheira, esse desalento tem empurrado o brasileiro, principalmente das classes menos favorecidas, para os braços daqueles que se autointitulam “políticos não profissionais”, os chamados “não políticos”, e aqueles que adotam um discurso conservador, como é o caso dos pastores e aqueles da direita extremista. 

Contribuiu ainda para o braço da Universal chegar à segunda prefeitura mais importante do país o grande número de abstenção e os votos brancos e nulos, que foi uma realidade observada em todo o país desde o primeiro turno das eleições municipais. Significa que os candidatos mais votados tiveram menos votos da soma do total de eleitores que deixaram de votar. E isso comprova que deixar de votar também contribui para colocar os políticos no poder.

O avanço dos evangélicos é o sinal vermelho no Brasil não só pelo fato de ser um país laico, mas principalmente porque as igrejas evangélicas têm um discurso conservador que alimenta a sanha dos reacionários de todos os tipos, os quais atentam contra o direito de minorias, que adotam o discurso da moral e dos bons costumes em vez dos direitos do cidadão conquistados sob muita luta ao longo dos anos.

As igrejas evangélicas têm registrado um grande crescimento de fiéis, com destaque para as neopentecostais que arrebanham principalmente os mais pobres e menos instruídos, os quais acabam se tornando alvos fáceis. E são eles os mais suscetíveis a essa nova realidade de desalento político e às promessa das igrejas que servem como “pronto socorro espiritual” e promessa de prosperidade por meio da fé. 

As TVs estão cheias de pastores que se aproveitam disso. E a política partidária é apenas mais um passo. O “efeito Crivella” está aí desafiando os teóricos da política.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

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