Mais saber, menos aplausos


A convite do professor Alfredo Rolins, aceitei realizar uma palestra (na verdade, uma conversa) para alunos das turmas do 3º ano da Escola Estadual Ana Libória, onde estudei há 29 anos, quando eu tinha 17 anos de idade. É a segunda vez que volto lá com o mesmo propósito, embora em contextos diferentes: falar sobre a realidade da imprensa e o poder.

Não é fácil conversar com adolescentes, já entrando para a juventude, sobre temas que dominam o cenário atual do Brasil, uma vez que minha missão desta vez foi tratar da atuação da Imprensa diante da realidade da Operação Lava Jato, que investiga o maior esquema de corrupção da história da política brasileira.

O desalento dos brasileiros com a política foi expressado oficialmente pelos números da Justiça Eleitoral nas eleições municipais deste ano. Em algumas capitais, o número de abstenções e de votos nulos e branco superou o total dos votos dos prefeitos eleitos. 

Só aí dá para perceber que, diante deste quadro, os adolescentes também sentem essa ressaca política e criam um desdém pela realidade brasileira, conjuntura esta muito diferente daquela em que estudantes, diante da ditadura militar, ergueram as mangas e foram às ruas pedir “Diretas Já” ou se engajaram nos movimentos estudantis.

Hoje, com o pós-modernismo, com as pessoas mais preocupadas com sua individualidade, é cada vez mais difícil encontrar jovens e adolescentes canalizando seu poder contestador e sua energia em ebulição própria da idade para o movimento estudantil ou para o debate político. E quando isso ocorre, a exemplo da ocupação de escolas em alguns estados, em protesto por uma educação melhor, o poder político, que detém o poder da mídia, tenta desmobilizar e desacreditar a mobilização.

Esse poder agressivo que vem se intensificando nos últimos anos, com o avanço da extrema direita e dos conservadores, somando-se a isso a concentração dos veículos de comunicação nas mãos de algumas corporações, há uma forte manipulação da opinião pública, que joga a população mais pobre contra seus próprios interesses. 

Mas há um alento, aqui e acolá, como percebi na palestra de ontem na Escola Ana Libória. Entre os apáticos e os desinteressados pelo assunto, havia vários adolescentes ávidos por entrar no debate, cheios de curiosidades a serem saciadas em relação à mídia e ao poder, prenhes de contestação em um mundo no qual os poderosos mandam os críticos silenciarem.

É um momento delicado para o Brasil e para o mundo, em que os extremistas se apoiam naqueles que não têm noção para separar a verdade e das mentiras. As palavras de Trump, nos Estados Unidos, resumem isso muito bem: “Amo os que não têm educação”. Isso porque, quando menos saber, mais aplausos aos mentirosos. 

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

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