O Espelho


Torna-se um alvoroço nas redes sociais, típico da “síndrome de vira-lata”, a presença de uma equipe do Fantástico, da Globo, em terra Macuxi. É como se esse programa representasse algo um endeusamento, como se alguma reportagem por lá fosse resolver nossas vidas definitivamente. Não é bem assim.

A imprensa dá sua importante contribuição ao revelar, apontar, desnudar, criticar, denunciar, mas só quem tem a capacidade de mudar a realidade somos nós mesmos, cidadãos e eleitores, por meio de nossas ações, atitudes, consciência e senso crítico. 

Os políticos que temos hoje, no poder, em todos os níveis, representam o que somos ou que fomos na hora de elegê-los. Eles não são invenção dos ETs nem foram eleitos pelos gnomos da Xuxa. São cria nossa, seja de quem votou neles ou não, pois a democracia é isso mesmo, o governo da maioria que também representa a minoria. 

É por isso que o eleitor roraimense, em vez de achar que a solução para o Estado depende de alguma divulgação isolada em nível nacional, deveria começar a fazer sua autocrítica, começando a perceber que ele também tem sua parcela de culpa por tudo que acontece no Estado. 

O processo político em um país democrático permite que as pessoas até se excedam em suas críticas (cabendo também responder judicialmente por seus excessos, se for o caso), mas é a consciência política em seus atos que vai habilitá-lo a ser digno de exercer suas cobranças.

Temos muito a construir e também a reconstruir, pois permitimos compactuar com grupos políticos que estão enraizados no poder sem nunca ter dado sua contrapartida ao Estado. E também contribuímos com a feria-livre eleitoral, trocando nossos votos e nossas consciências de acordo com conveniências ou vantagens pessoais. 

É duro admitir que o Estado de Roraima encontra-se nesta situação crítica porque nós, o povo, permitimos por meio de nossas escolhas ou omissões, muitas vezes optando por acusar somente os políticos pelos erros. Mas é necessária essa tomada de consciência, ainda que tardia.

Não podemos continuar depositando nossas esperanças em pessoas, em grupos, em reportagem do Fantástico ou seja qual for a força externa. A mudança tem que começar a partir de nós, de nossas ações como cidadãos conscientes do papel de contribuir para mudar. 

Não iremos transformar esse Estado agindo historicamente como vendilhões de votos ou achando que a política é uma eterna troca de favores pessoais ou algo que se deve levar algum tipo de vantagem ou dividendo que não seja o bem-estar coletivo. Políticos corruptos, povo corruptível. 

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

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