O ovo da serpente


Embora a vitória de Donald Trump não represente nenhuma mudança substancial na relação diplomática ou econômica do Brasil com os Estados Unidos, trata-se de um duro golpe para a condução de um mundo melhor, com menos barreira e mais humanidade. É a eleição de um bilionário que encarnou a alma de um não político que pregou tudo aquilo que é mais reprovável no ser humano.

Trump é o retorno da desesperança, pois seu discurso mostrou tudo aquilo que é combatido por uma sociedade guiada pela cidadania: falou mal dos imigrantes pobres, em especial dos mexicanos, muçulmanos, judeus e dos negros; não poupou nem os deficientes físicos e muito menos as mulheres.

O trumpismo é a encarnação da desumanização pregada pelos extremistas em todo o mundo, em que direitos humanos, respeito aos mais pobres e excluídos se tornaram algo abominável. Há uma corrente se fortalecendo em defender a desumanização do outro, especialmente aqueles que pensam diferente, com o propósito de gerar uma constante desconfiança nos que criticam o poder.

Essa postura de manter o outro na condição de inimigo, de alguém que não merece confiança, do contestador, do que defende minorias, faz com que os pobres passem a detestar os pobres e a aplaudir aqueles que atentam contra os interesses dos pobres, passando a defender os poderosos que suprimem os direitos já conquistados pela sociedade.

Isso está ocorrendo neste momento no Brasil do impeachment, quando o poder econômico e político tenta empurrar goela abaixo uma Medida Provisória que sacrifica mais ainda os pobres, sem que os ricos deem sua parcela de contribuição para sanar o país. Os pobres, manipulados por esse extremismo de direita, aplaudem sem contestar, acreditando nas mentiras dos poderosos.

É isso que a vitória de Trump representa para o mundo, a construção de mais muros, a cultivação do ódio aos que migram para outros países em busca de melhores condições de vida e o conservadorismo que põe o pobre a detestar pobre, elegendo ricos politicamente incorretos como se fosse a nova salvação do mundo.

Não é provável que Trump ponha em prática o seu discurso que o fez ganhar essa eleição histórica nos EUA, uma vez que o establishment norte-americano não vai permitir e irá impor limites, mas ele se tornou o símbolo da reencarnação do mal, o fortalecimento dos racistas, preconceituosos e machistas, intolerância ética e religiosa, sinal de que o mundo só poderá piorar daqui para frente. É o ovo da serpente que sempre esteve pronto para ser gerado. 

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

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