Na calada da noite


Lamentavelmente, está acontecendo tudo aquilo que foi alertado, por aqui, a respeito do Brasil pós-impeachment. A partir daquela gravação do diálogo de Jucá, divulgada amplamente pela imprensa, já era possível afirmar que o impeachment de Dilma seria o principal passo para esse grupo começar a frear a Operação Lava Jato. Foi o efeito “boi piranha”, dito nas palavras bem nítidas de Jucá, ainda quando se tramava a saída de Dilma.

Conforme foi publicado aqui, logo depois de concluído o impeachment, passou a haver uma tolerância muito forte aos corruptos da cleptocracia que estava sendo montada pelo governo Temer (PMDB). Desde lá, esse governo, em conluio com o Congresso, não fez outra coisa senão buscar maneiras de desmobilizar a Polícia Federal, enfraquecer a Operação Lava Jato e buscar formas de livrar os corruptos.

E foi isso o que aconteceu na madrugada de ontem, quando os deputados federais, boa parte deles investigada pela Lava Jato, durante a madrugada, aproveitando a comoção nacional pelas mortes no voo da Chapecoense, aprovaram o pacote de medidas contra a corrupção, o qual foi proposto com apoio de milhões de brasileiros, mas que foi desfigurado completamente para beneficiar os corruptos.

De quebra, aprovaram uma retaliação ao Ministério Público e ao Judiciário,  ato este que se encaixa perfeitamente no que também foi comentado por aqui, quando foi alertado que poderiam ocorrer grandes acordos, aos moldes do que foi feito diante da Operação Mãos Limpas, que investigou a máfia na Itália, cujo lema era: “Se todos são culpados, logo todos são inocentes”.

Ficou muito claro que existe uma orquestração perigosa e bem articulada para livrar da cadeia todos os corruptos, de políticos a empresários, que se instalaram no poder desde o governo de Fernando Henrique Cardoso e se fortaleceram diante dos grandes esquemas montados e mantidos ao longo de todos os governos, indistintamente de partido e/ou ideologia. 

Com a instalação desse atual governo pós-impeachment, os corruptos e seus colaboradores foram mantidos em pontos estratégicos a fim de proteger o grande esquema e livrarem da Operação Lava Jato, ou de futuras investigações que por ventura possam surgir, todos os operadores e beneficiários da corrupção em larga escala.

O esquema é tão ardiloso que os patifes do poder buscaram um momento de comoção nacional para agir, estendendo-se no Congresso na calada da noite e se prolongando até a madrugada. Enquanto o país esperava que o cerco se fechasse em torno dos corruptos, são eles que estão acuando o povo. O momento é de reação. O Brasil corre perigo. 

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

jesseroraima@hotmail.com

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