No mesmo saco


São cada vez mais fortes os posicionamentos contra a migração em massa de venezuelanos, alguns jogando a opinião pública contra os estrangeiros, como se todos fossem prostitutas, ladrões e golpistas. Um dado curioso é que entre essas opiniões estão as daqueles que criticam o tratamento dado aos refugiados da Europa, inclusive romantizaram a morte de uma criança síria que se tornou "anjo" nas redes sociais. 

A questão dos venezuelanos é humanitária, e não são apenas a escória que está vindo para o Brasil. Há profissionais de várias áreas, trabalhadores de vários setores, artistas de rua, pais de família, jovens idealistas e muita gente querendo vencer pelo trabalho. 

Não faz muito tempo, vozes se levantavam contra a migração de nordestinos brasileiros pobres, principalmente garimpeiros. Diziam que estavam vindo para cá analfabetos, esfomeados e criminosos. E hoje esses nordestinos mostraram que não era da forma como se falavam e hoje estão integrados ao mercado, à economia, à sociedade. 

Por outro lado, também não faz muito tempo, quando a gasolina e a área de livre comércio na Venezuela atraíam brasileiros, muitos roraimenses se estabeleceram do lado de lá da fronteira, inclusive gente que cometia o crime de contrabando e descaminho. Nem por isso se tornaram criminosos, e sim pessoas integradas ao país vizinho. E não esqueçamos: muitos criminosos e foragidos até hoje se escondem por lá.

É fato que os governantes precisam garantir estrutura para atender a esses imigrantes, o que vem sendo feito pelo Governo do Estado a duras penas, mas algo está sendo feito sim, com esforço mínimo do Governo Federal. 

Foi assim também com os nordestinos, inclusive com políticos instalando o assistencialismo e se aproveitando eleitoralmente disso. 

O Estado de Roraima, para se desenvolver, precisa de mais gente, de população para engrossar o mercado consumidor, favorecendo a instalação de indústrias. E essa migração forçada de venezuelanos pode ser essa força extra que precisamos, no que pese bandidos estarem vindo juntos. Aliás, o que foi a colonização da América Latina senão o envio de bandidos de toda espécie nas caravelas?

Os venezuelanos vistos preconceituosamente como empecilhos por muitos, jogados no mesmo saco de bandidos e velhacos, poderão ser a alternativa futura para o Estado, quando estiverem integrados. Já sabemos que trabalho não falta por aqui, e muitos estrangeiros já estão ocupando as funções renegadas pelos roraimenses, os quais querem somente “emprego” (de preferência sem trabalhar). 

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista


jesseroraima@hotmail.com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Damurida com Xibé

Deputado federal na mira da Operação Arcanjo

Filha de magistrado é servidora do governo, mas mora em Goiânia