Poder e pés de barro


A política brasileira chegou ao nível atual de corrupção graças à ineficiência do Judiciário que, por longos anos, vem agindo de forma lenta e burocrática, o que permitiu não punir de forma definitiva os políticos que vêm sendo seguidamente acusados de corrupção. O caso Paulo Maluf é o mais emblemático, mas quase todos os caciques políticos estão enredados em casos que nunca foram julgados.

Enquanto isso, há detentos alegando que estão fazendo motim porque estão há vários anos presos, mas aguardando julgamento. Em outra ponta da sociedade, políticos quase nunca recebem o rigor da lei, sendo beneficiados por decisões individuais, pedidos de vistas e prazos indefinidos para colocar os processos em julgamentos.

Não podemos nos esquecer de casos recentes, em Roraima, de governadores cassados e “descassados” em tempo recorde, ou os que foram cassados, mas concluíram seus mandatos graças a esse jogo de liminares permitido por decisões individuais de magistrados, longe de regras institucionais que ponham um fim nisso.

Além do mais, há o segredo de justiça que tem servido para acobertar essa lentidão de processos no Supremo Tribunal Federal (STF) e que também impede a opinião pública de saber das acusações que pesam contra os políticos, os quais respondem a diversas acusações há mais de uma década, sem que seus processos andem. 

Enquanto é possível que um ladrão de galinha vá parar atrás das grades de uma delegacia, nem que seja para aguardar a audiência custódia, a Justiça não consegue alcançar com a mesma pressa os políticos acusados de corrupção. Quando alcançado é porque muita água já rolou por debaixo da ponte – se é que vocês me entendem. 

Isso vem de longe, desde o tempo em que o Judiciário fechou os olhos para os grandes problemas do Brasil, a exemplo da ditadura militar, quando houve um pacto informal de que cada poder fecharia os olhos para os excessos e desmandos do outro. Desde lá surgiram todos os tipos de desmandos e um super poder (remunerações acima da realidade brasileira, nepotismo, benefícios de várias espécies etc etc etc), problemas estes que se tentam resolver até os dias de hoje.

Esse grande poder concentrado nas mãos nem sempre foi absoluto, pois era (ou é) minado na hora de o Legislativo e Executivo discutirem o Orçamento do próximo ano. Então, chega o momento de acerto de contas, de compadrio, de ajustes e do “deixa disso”. E assim os corruptos vão se livrando.

Enfim, hoje temos um grande problema a ser resolvido: políticos com ficha extensa na Justiça querendo não apenas frear investigações, mas punições para magistrados e promotores. E a Justiça, com seu poder e independência, sempre precisando de mais dinheiro para bancar todo esse poderio, vai saber lidar com isso? Ou todos vão falar a mesma linguagem quando redescobrirem que é hora de discutir o orçamento e que tudo deveria ficar como está?

P.S.; Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

jesseroraima@hotmail.com

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