Um exemplo que se foi


Dom Paulo Evaristo Arns morreu nesta quarta-feira, no meio do turbilhão que se tornou o Brasil, do anarquismo jurídico que começou no impeachment e que segue com a briga entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, em que ninguém sabe quem manda e quem obedece. Não haveria momento mais simbólico e triste para esse ícone se despedir do Brasil.

Para os mais novos e os sem-memória, é bom lembrar que Dom Evaristo teve toda sua vida dedicada não apenas à defesa dos direitos humanos no país. Ele também foi um dos principais atores na luta contra a ditadura, que se apossou do Brasil de 1964 a 1985, e a favor das Diretas Já.

Isso significa que ele teve um papel não apenas importante, mas decisivo para a democracia brasileira. Além disso, foi considerado o “cardeal da esperança”, por sua dedicação na defesa dos mais pobres.  E toda essa sua luta, que não foi em vão, está sendo esfacelada por um Congresso mais corruto da história. Se Dom Evaristo não estive doente e recluso, talvez estivesse angustiado com tudo isso.

Para tentar se limpar com a opinião pública, a TV Globo dedicou um bom tempo de seus principais telejornais à vida e à importância de Dom Evaristo em favor dos pobres e da democracia, bem como da atuação firme contra a ditadura militar. Afinal, ela precisa disfarçar um pouco, pois a Globo está sendo o sustentáculo dessa esculhambação geral da nação, desde o apoio ao impeachment para que esse grupo de canalhas assumisse a condução do Brasil.

A vida deste religioso católico serve de luz e reflexão para que os brasileiros reflitam sobre os percalços pelos quais o Brasil passou, a fim de chegar até aqui, quando os canalhas tomaram o pode e agora tentam eliminar todas as conquistas sociais, por meio de um Congresso vendido à corrupção, sob uma aliança espúria com todos aqueles contra quem Dom 
Paulo Evaristo Arns tanto lutou por toda sua vida.

É por isso que a morte deste ícone, independente de religião, ganha uma simbologia importante e ao mesmo tempo sombria, pois se trata de um guardião da democracia, da ética e de uma sociedade decente que sai de cena no momento em que o Brasil mais precisa de seus valores e de sua luta como exemplo.

Que os mais jovens saibam da importância de Dom Evaristo. E que os mais velhos reflitam e acordem dessa amnésia histórica, para que não permitam entregar o Brasil nas mãos daqueles que tanto mal fizeram aos pobres e à democracia, e que hoje tentam desfazer toda essa luta que permitiu chegar às conquistas por mais justiça e mais garantia aos pobres. 

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

jesseroraima@hotmail.com

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