Do avesso


Uma discussão nas redes sociais, que em primeiro momento parece algo estéril ou insignificante para os brasileiros, precisa ser visto com outro foco. A frase questionada é: “Trump não me representa”. Logo surgiram “memes” e inúmeras críticas aos que escolheram protestar contra o presidente dos Estados Unidos, por ele estar distante de nossa realidade e, por isso, não importasse para os brasileiros.

É preciso entender que Trump assumiu seu país dando os primeiros passos para uma nova ordem mundial baseada no ódio, na supremacia dos norte-americanos, no ataque desmedido à imprensa (o principal fiscal dos governos) e seus “delírios protecionistas” que podem provocar estragos na economia mundial sem precedentes, já que vivemos em um mundo globalizado e conectado.

Sua forma de fazer campanha eleitoral já havia dado o indicativo, por ter sido baseada em compartilhamentos de falsas notícias, o que vem sendo copiada pelo mundo e só reforça o esmagamento da ética na política e o fortalecimento do fascismo, que cresce não só no Brasil, mas em outros países. Sem contar que Trump foi eleito pela maioria no colégio eleitoral e com uma minoria de voto popular.

Quem escreve em suas redes sociais que “Trump não me representa” não necessariamente está preocupado só com a política interna implantada nos EUA, e sim com essa nova ordem mundial baseada em um presidente raivoso, debochado, que ataca minorias, misógino e que já mostrou que não saberá diferenciar o público do privado.

Trump mostrou-se a negação de Thomas Jefferson, que dizia que é preferível um regime de “jornais sem governo do que um governo sem jornais”. É exatamente isso que todos os ditadores e malucos que já governaram o mundo queriam: o fim dos jornais, a morte da imprensa, a degola de jornalistas para que seus governos e suas ações não sejam monitorados.

O novo presidente dos EUA alimenta mentes brasileiras que já pensam em ter um presidente baseado nessa nova ordem do mal. Esses eleitores são aqueles que aplaudem a barbárie em presídios, os que invocam o ódio como forma de resolver os graves problemas e que pregam o fim de todo mal sem apontar onde está a causa, preferindo atacar as consequências.

É este o grande risco para o mundo, aceitar como certo tudo aquilo que abominávamos no passado não muito distante e achar normal tudo o que antes era detestado pela sociedade. É por isso que Trump jamais pode representar os que não se rendem.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista


jesseroraima@hotmail.com

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