De Leste a Oeste, um sopro


Sem fazer nada no fim de semana e entediado com o ar-condicionado, decidi abastecer o tanque do carro e dirigir pela cidade. Comecei almoçando no shopping onde começa a zona Leste e, de lá, parti para os últimos bairros na zona Oeste, no outro extremo.

À medida que as áreas centrais iam ficando para trás, onde tudo parecia estar em câmera lenta (slow mocion, para os mais novos), a vida começava a pulsar. Quanto mais longe, a geometria do urbanismo do Centro passa a ser substituída pela confusão do emaranhado de ruas e gente.

Então, antes que terminasse a primeira pasta de música do meu pen drive, eu já estava no fim da cidade, onde as casas enfileiradas em forma de conjuntos habitacionais contrastam com o típico lavrado roraimense, anunciando que ali é o fim da zona urbana.

Depois de observar a Serra Grande ao fundo, em direção ao Sul, imaginei: é isso que faz com que alguns não se adaptem por aqui, pois tais pessoas já não conseguem mais viver fora do vício que se tornaram as grandes distâncias, a irritação do caos no trânsito e o excessivo mau humor dos grandes centros.

Até mesmo eu, um Macuxi acostumado ao lavrado e serras, um dia senti uma adrenalina diferente no meio da confusão de Manaus (AM) e na correria frenética de São Paulo ou na desordem encantadora moldada pelos morros, no Rio de Janeiro. A adrenalina das grandes cidades é como se fosse uma droga que vicia. E, quando se adoece de forma crônica, não há mais volta.

Talvez seja isso que faz com que muitos que chegam dos grandes centros não consigam se adaptar.  Porque Boa Vista nos convida à felicidade e à tranquilidade, apesar das deficiências e carências. Podemos ir do Leste a Oeste, de Norte a Sul em poucos minutos, sem medo de se deparar com territórios dominados pelo crime.

E a periferia cheia de gente sorrindo, apesar da prestação no fim do mês e dos programas policialescos anunciando crimes. Em Boa Vista, aprendemos que existe vida fora da tensão e do trabalho extenuante; o lazer com coisas simples e a diversão longe de luzes e cores fortes.

Boa Vista ensina quem não sabe mais conviver com vizinhos e com a tranquilidade de tudo estar perto, mesmo os daqui achando que tudo está longe por pura preguiça de cidade pequena; o banho de praia dentro da cidade; os sítios na zona rural; o pôr do sol sempre explodindo em cores em qualquer época do ano. Quando se reaprende a viver, tudo isso faz sentido. É a simplicidade de um local onde tudo ainda estar por fazer. E que nos convida à felicidade.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

jesseroraima@hotmail.com

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