Do perfume à burrice


Certa vez, postei um resmungo nas redes sociais a respeito de pessoas que usam perfumes fortes nas primeiras horas da manhã para fazer caminhadas. Para quem está praticando exercícios, perfume às 5 horas provoca uma sensação de sufocamento, causando uma repulsa imediata por aquele cheiro.

Ao conhecer uma internauta com a qual só mantinha contatos virtuais, ela quis saber por que eu não gostava de perfume. Embora minha postagem tenha sido bem clara e direta sobre pessoas que usavam perfume forte bem cedo da manhã, na hora de fazer exercícios físicos, a pessoa supôs que eu não gostasse de perfume sob hipótese alguma.

A interpretação tornou-se um caso sério nas redes sociais. As pessoas cada vez mais mostram-se despreparadas para compreender aquilo que estão lendo. E quando há uma motivação extra, como o ódio gratuito pela opinião divergente, a situação ganha contornos piores.

Há outro problema que segue nessa mesma lógica, que é a leitura apressada e superficial daquilo que está postado, principalmente se for um texto mais extenso, fazendo com que as muitas pessoas leiam somente o início da sentença e já criam um entendimento errado ou um juízo de valor que não condiz com todo o texto.

A internet está alimentando uma geração baseada na superficialidade. De início, pode parecer muito prático receber informações de forma rápida e objetiva, principalmente nesse mundo que exige agilidade em que todos andam com pressa e sem tempo. Porém, essa forma de lidar com a facilidade acaba acostumando o cérebro a um retrocesso, a um aprendizado baseado na superficialidade e comodismo.

Estudiosos têm comprovado que o cérebro se adapta a novas realidades, inclusive à falta do hábito de leituras mais profundas e elaboradas, o que só é possível por meio dos livros. Sem leitura e se alimentando constantemente de informações superficiais das redes sociais, estamos “congelando” nosso cérebro.

Esse hábito cria uma nova realidade em nossa cabeça, nos tornando dependentes de informações sem profundidade e sem reflexão, muitas vezes de forma distorcida. E assim passamos a querer somente uma realidade muito superficial, que não exija senso crítico diante dos fatos.

Em outras palavras, as redes sociais estão nos emburrecendo. E esse é um dos combustíveis para tudo o que está sendo alimentado de ruim na internet, pois, como já diziam nossos avós, quando nem televisão existia: “Quando a cabeça não pensa é o corpo que padece”.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

jesseroraima@hotmail.com

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