Plateia senta-e-levanta


Há um certo tempo, a Globo tem tentado fazer de notícias sérias um espetáculo, algo que fuja dos fatos para folclorizar, espetacularizar, a fim de que o público se confunda e não consiga mais separar o que é verdade do que é mentira, o que é importante do que é banal. Assim, até a violência é enfeitada para se enquadrar nesta “nova realidade”.

No programa dominical Fantástico, por exemplo, as informações sérias são permeadas com banalidades. Quem gosta de futebol pode perceber claramente sobre o que estou querendo explicar. Na hora de tratar sobre os campeonatos, o gol deixa de ser mais importante do que as “furadas”, os fatos inusitados ou grotescos.

Quando em uma partida tem muitos gols, por exemplo, nem todos são mostrados e, se um time é de interesse da casa, até pode passar todos os gols da partida, mas na pressa, sem replay e sem qualquer detalhe que possa interessar ao torcedor de uma forma geral.

Sendo assim, o futebol foi transformado em algo parecido como cenas de pastelão que passam a ser mais importante que os gols, a técnica e a tática. A paixão brasileira foi transformada em cenas de comédias, em que o que menos importa é o futebol.

E assim, esta mesma técnica de banalizar aquilo que é mais importante, tornando tudo um amontoado de besteirol, vai ganhando corpo por toda a programação televisiva. Chega a um determinado ponto que o público não sabe mais o que é sério e o que é banal. Até a violência foi banalizada.

Essencial neste momento é começar a notar que a TV, de uma forma geral, passa a tratar o público como um mero adorno, em que se submete a suas programações cujos interesses são inconfessáveis. Tudo vira espetáculo para que as pessoas possam ser manipuladas a qualquer momento, uma vez que a velocidade com que são feitas as narrações não dá tempo para analisar nem discutir.

Os telejornais tornam-se um produto para manipular de acordo com a conveniência de seus grupos e de seus donos. Antes, a Globo ainda procurava disfarçar a manipulação, usando técnicas refinadas, mas a situação chegou a um ponto de agir abertamente em favor de seus candidatos e de seus negócios.

Por isso, torna-se importante começar a perceber que a bestialização da opinião pública chegou ao seu cume, com Faustão há anos idiotizando as pessoas, as transformando em plateia do senta-levanta-e-aplaude, e o Fantástico chegando para terminar o serviço. Depois dessa lavagem cerebral, quem terá senso crítico para analisar os telejornais a serviço do mal e da manipulação do país?

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista
*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com


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