Reflexão e crítica em extinção


Imagem: http://brasilescola.uol.com.br/
Jessé Souza*


Durante o horário de pico na Avenida Carlos Pereira de Melo, um acidente de trânsito sem gravidade acabou por complicar o tráfego que já se tornou difícil depois que o Residencial Vila Jardim, no bairro Cidade Satélite, passou a abrigar mais três mil famílias. Mas não foi o acidente que fez “travar” o tráfego.

Na verdade, os responsáveis pelo problema eram os condutores de veículo que paravam não apenas pela curiosidade de ver a cena, mas para tirar fotos a fim de alimentar seus grupos de WhatsApp, ávidos por uma tragédia qualquer. Tiravam a foto e, com a velocidade reduzida, sem parar o veículo, já enviavam a imagem do acidente.

Por longos anos, a imprensa sempre foi alvo de fortes críticas ao ser acusada de sensacionalista e de ter na violência sua forma de ganhar dinheiro. É fato que, em parte, a acusação procede, principalmente no que diz respeito a programas policialescos de TV e mídia impressa que explora a linha chamada “popular”.

Porém, com a força da internet, que potencializou as redes sociais e compartilhamentos por celular, o papel se inverteu. A mídia tradicional entrou numa batalha incansável para não ser devorada por essa nova realidade, enquanto as pessoas anônimas, “armadas” com seus celulares que gravam vídeo e tiram foto, passaram a produzir e alimentar-se da violência urbana e a desgraça humana nas redes sociais e grupos de WhatsApp.

Na velocidade da internet, a informação vem sendo engolida pela divulgação, seja ela sensacionalista ou bizarra, fútil ou mesmo disfarçada de solidariedade por meio de imagens de crianças e adultos com doenças raras. Ou fofocas sobre qualquer pessoa, e não mais apenas de artistas e autoridades. Não há mais tempo para reflexão nem senso crítico, pois tudo passou a ser na velocidade da avidez das pessoas que querem ser produtoras de mídia.

Enquanto a imprensa tradicional bate cabeça para encontrar seu novo caminho, a sociedade cada vez mais busca esse imediatismo sem sentido e sem conteúdo das redes sociais. O volume de divulgação é frenético a ponto de a TV ter deixado de ser o bicho-papão que sozinha alienava as pessoas.

Até o BBB, da Globo, está tentando acompanhar essa tendência, colocando pessoas do povo para criar futricas e intrigas em um reality show parecido com o que o Facebook se transformou: um diário da vida das pessoas anônimas, de suas aventuras e desventuras, conflitos e futilidades, onde a informação facilmente se confunde com inutilidades que não permitem mais reflexão.

Recentemente, surgiu a informação de que o dono do Facebook não vai mais permitir que sejam publicados links em postagens na Linha do Tempo dos perfis, páginas e grupos. Será o golpe final para que a informação seja banida de vez da mais popular rede social do mundo. E a falta de senso crítico e de reflexão irá imperar de forma definitiva.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista

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