Fogo cruzado

Jessé Souza*

Piada se fosse algo engraçado. Mas não há nenhuma graça em o Estado de Roraima aceitar transferências de presos perigosos do Amazonas que pertencem a uma facção criminosa, como se aqui fôssemos uma sucursal de bandidos, os quais fogem quando e como quiserem da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo.

Nos últimos dias, ficou muito claro que o sistema prisional roraimense não consegue ter o menor controle dos presos, os quais vêm fugindo sem ser “notados”, demonstrando a falência do Estado quando se trata de manter sob sua guarda aqueles que deveriam estar segredados da sociedade.

Com estrutura precária, superlotação e número de servidores insuficiente, então não há qualquer lógica em aceitar que o Amazonas exporte presos perigosos para atender a exigências de bandidos que sabem que Roraima é o paraíso das fugas, das regalias e das facções.

Se já não consegue administrar o que está aos frangalhos, obviamente que também não tem condições de ficar aceitando transferência de presos de outros estados. Isso é um acinte à população e ao sistema de segurança, uma vez que a maioria dos crimes cometidos no Estado tem suas raízes no sistema prisional.

É fato que os presídios estão em situação precária desde outros governos, mas isso não significa que atual administração tente se eximir das responsabilidades, uma vez que já deu tempo suficiente para tentar reverter esse quadro, o que não vem acontecendo.

Pelo cenário que estamos presenciando, os bandidos estão mais organizados do que o próprio Estado, pois, além de praticamente manterem sitiada a Penitenciária, agora estão conseguindo fazer intercâmbio interestadual de integrantes de facções criminosas.

Os servidores civis e militares que estão nesse “fogo cruzado” do caos penitenciário sabem que a situação é dramática e que há tempos eles não conseguem mais ter o domínio da situação do portão para dentro, resumindo suas atividades a cuidar da vigilância externa, tentando controlar presos cada vez mais audaciosos, que agora conseguem construir escadas dentro do presídio e saem a qualquer hora.

Enquanto a situação fica cada vez mais crítica, as autoridades não estão preocupadas, pois elas têm proteção integral dos agentes do Estado, como se fossem seguranças particulares, e não estão à mercê da insegurança pública, como vive a população dos bairros da Capital e do interior do Estado.

Aceitar criminosos de facções exportados pelos Amazonas soa como se fosse um deboche com a população. É uma mostra de que, se já está ruim, pode ficar pior ainda. Não há outra forma de se entender isso que está ocorrendo no sistema prisional roraimense.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista

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