O pior dia de todos os tempos



Hoje, Dia do Servidor Público, mais que nunca, deve servir de momento de reflexão para todas as categorias em Roraima, pois o momento é de crise e de muita incerteza quanto ao futuro. Para os servidores estaduais, o parcelamento e o atraso dos salários são o fundo do poço que vinha sendo anunciado, mas que ninguém queria acreditar. 

O essencial a perceber é que o buraco deste poço vem sendo cavado há muito tempo. Não se trata de um problema do governo atual ou da administração anterior. Trata-se de uma conjuntura, de uma política (ou falta dela) adotada por todos os governos desde a instalação do Estado.

O funcionalismo público sempre foi usado como moeda eleitoral e política desde os primórdios. Apoio político sempre foi comprado com cargos públicos, cujas cotas eram distribuídas como moeda de apoio para sustentar a bancada governista ou cooptar aliados no Legislativo.

O povo também foi aliciado com oferecimento de cargos públicos por meio de cargos comissionados, o tornando “pedintes de gabinetes”, quando as pessoas passaram a ir em busca de emprego, e não mais de trabalho. A elite local também se beneficiou, empregando os seus de acordo com suas conveniências.

Essa moeda se prostituiu tanto que, chegou um dia, a prática tornou-se uma forma de se fazer política, instituindo-se no Estado os “gafanhotos”, oficializando a contratação de pessoas apenas para receber sem trabalhar, ou seja, apenas “comendo” na folha de pagamento (daí a expressão “gafanhoto”). 

A prática sempre existiu, mas ela tão somente se tornou escancarada oficialmente, praticada por todos os poderes, seja por meio do nepotismo cruzado ou mesmo por troca de favores. E assim o funcionalismo público seguiu até os dias atuais, com os cofres públicos sendo atacados por todos os lados por meio de contratações de toda espécie.

Hoje chegamos na encruzilhada, com o governo sem recursos para pagar o salário até dos concursados, porém, ainda mantendo antigas práticas, desta vez de forma mais velada, uma vez que o “caso gafanhoto” vem dando dor de cabeça para muitos. Quem é concursado sabe que a situação é crítica, no entanto, ela é resultado das farras que vêm sendo mantida desde longas datas.

Somam-se a  isso a corrupção, os esquemas, o toma-lá-dá-cá e os desmandos administrativos. E a situação pode piorar para todas as categorias de servidores em todos os níveis, pois a PEC 241, que já passou na Câmara, irá dar o golpe final por longos 20 anos no funcionalismo, sem benefícios, sem reajuste salarial e com duro golpe na previdência. Não há nada a comemorar. É o pior dia de todos os tempos para o funcionalismo público.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista 

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