Depois das mortes no berçário...

Jessé Souza*

A situação da única maternidade pública do Estado de Roraima, largada às traças há muito tempo e na maioria dos governos, é apenas uma das faces dos governantes que não dão prioridade não apenas à saúde pública, mas também à infância roraimense. A desculpa atual seriam as venezuelanas que estão aumentando a demanda de atendimento no setor público, o que não dá mais para engolir.
A morte de bebês por infecção hospitalar, que ocorreu no final da década de 1990 nesse mesmo Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, foi o cume da desassistência às famílias de mulheres grávidas e suas crianças. As mortes tornaram-se um escândalo de proporção nacional e, desde lá, já era para Roraima ter mantido investimento a fim de garantir um atendimento de qualidade, independente de haver venezuelanas ou não.
Porém, depois dessa tragédia de dezenas de crianças mortas por infecção hospitalar, alguma providência foi tomada a fim de evitar que os gestores daquela época (a propósito, desse mesmo governo que está no poder) fossem penalizados, mas não o suficiente para que a maternidade pública ganhasse uma estrutura adequada com atendimento de qualidade.
Hoje, a estrutura ultrapassada não consegue sequer proporcionar leitos para quem chega dar à luz e nem para aquelas que já tiveram bebês, sendo as mulheres obrigadas a ficarem jogadas em cadeiras de plásticos ou poltronas espalhadas nos corredores da maternidade. E não se trata de uma cena recente, pois isso vem ocorrendo ao longo dos anos.
Na década de 90, era possível o governo negar e desmentir as denúncias. Mas hoje, com a tecnologia disponível ao público, não há mais como abafar as imagens que chegam a público por meio do WhatsApp e das redes sociais. As cenas deprimentes apenas reforçam o desleixo dos governantes com a saúde pública.
A situação chegou a um nível tal que falta até comida de qualidade para quem está internada (e isso se repete no maior hospital do Estado, o HGR). E o que se espera é que essa visita de surpresa que foi feita na maternidade, no início da tarde de ontem, sob o comando da Assembleia Legislativa de Roraima em conjunto com o Ministério Público do Estado, possa resultar em uma ação concreta para começar a resolver o problema e punir os responsáveis.
A impunidade nesse país possibilitou que os administradores públicos tratem a saúde pública com desleixo, como vem ocorrendo desde a morte dos bebês no berçário. Então, já que estamos em um momento de passar tudo a limpo, que seja dado um basta nessa questão da maternidade pública. Não é mais possível tolerar isso.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com
Acesse: www.roraimadefato.com/main

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