Carona na 924

Jessé Souza*

A matéria divulgada pelo Fantástico, da Globo, neste domingo, obviamente não representa a realidade de toda Polícia Militar brasileira. Porém, ela não faz revelações tão somente de como agem os maus policiais no país do Petrolão, mas também de como a honestidade passou a ser tratada por aqueles que optam pelo caminho da bandidagem.

Todos os atos criminosos praticados pelos doze policiais do Rio Grande do Norte, no exercício de suas funções, usando a viatura 924 em plantões diferentes, indignaram a opinião pública. Embora os comportamentos dos agentes do Estado sejam deploráveis em todos os sentidos, um fato chamou atenção: a fala de um deles zombando da atitude de um colega policial honesto.

O policial corrupto, em tom de deboche, critica o colega de farda que afirmou que a honestidade era seu maior patrimônio. E fez questão de frisar que o seu colega, o honesto, andava em um carro “modelo antigo”, enquanto ele, o corrupto, havia comprado uma picape que custou cerca de R$100 mil.

A impunidade com as autoridades corruptas neste país tem levado as pessoas a acreditarem que a desonestidade é a única forma de se dar bem, enquanto as pessoas honestas são tratadas como “otárias”. Na medida em que os maus políticos e autoridades do mais alto escalão ficam ricos de forma desonesta, os servidores mais simples nas estruturas governamentais encontram na impunidade o encorajamento para serem corruptos.

Embora a viatura 924 tenha sido flagrada em uma rotina de achaques, tráfico, roubo e tortura, o Brasil está infestado de “pequenas corrupções” que contribuem para a grande permissividade que se vê hoje em nível nacional. Se o cidadão comum pratica irregularidades no seu dia a dia, obviamente que ele irá permitir e tolerar que a política no seu todo seja baseada na enganação e no crime.

Como a bandalheira chegou ao seu mais alto nível, com a elite financeira e política envolvida até o pescoço com a corrupção, blindada pela impunidade, não é sem explicação que o Brasil não entre em uma convulsão social por meio de protestos, pois, temos uma parcela da população que acha que vergonha é ser honesto e que a corrupção é o meio mais fácil de ganhar dinheiro.

Sendo assim, a viatura 924 tornou-se símbolo da corrupção policial, o Petrolão a vergonha da política brasileira e o “jeitinho brasileiro” a desmoralização nacional, pois é a partir dele, dos pequenos atos de esperteza e irregularidades, que se permite a bandalheira geral se instalar no Brasil.

P.S.: Artigo publicado originalmente na Folha de Boa Vista

*Jornalista
jesseroraima@hotmail.com
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